segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Comprar amiga(o) número 2


Dando continuidade ao texto com o mesmo título, darei um depoimento que aconteceu em 2007 quando dava aula para o projeto EJA, como sabem é um curso de aceleração que acontece no turno da noite e portanto de pessoas mais maduras.
Bem, o aluno Carlos que cursava o 3 ano do ensino médio deste projeto, era muito comunicativo e por ter mais ou menos 30 anos transitava bem com os mais jovens, assim como os mais maduros da turma, o que vem explicar que era bem adaptável à turma.
Quando chegou o mês de novembro, eis que o via sempre se oferecendo para passar natal na casa de um ou de outro. Para entender melhor, eu o via perguntando para um e outro se a pessoa morava com a família e se no natal ele poderia passar com eles. Sempre a pessoa se esquivava dizendo que tava cedo para pensar em natal, não sabia ainda onde iria ser, enfim cada um dava sua desculpa. Eu observando e refletia sobre a situação que acabava sendo estranha. Fiquei curiosa para entender a vida do Carlos.
Eis que um dia encontro com ele no corredor em um intervalo. Faço o convite para ir à sala de supervisão, penso “hoje quero entender o Carlos”.
Procuro ir direto ao assunto, pergunto: Carlos, você tem família?Por que fica oferecendo para passar o natal em família que nem conhece bem? Ele diz como era de se esperar que realmente não tem família aqui, apenas uma irmã que mora na Paraíba. Foi casado e fazia dois anos que separou. Ele não quer ficar o natal sozinho como já aconteceu., Não incomoda em levar coisas para a casa de alguém já que pode comprar, mas não quer passar como já passou o natal.
Bem, era o que esperava, sabia que ele tinha um pânico do natal, o que não é incomum por ser uma data diferente e, portanto com emoções especiais.
Sugeri, já que tinha boa condição financeira, que ele escolhesse uma instituição carente e no dia que antecede o natal fizesse compras e ficasse preparando ele mesmo as embalagens, os sanduíches, e no dia de natal levasse para fazer as doações. Falei até que o ajudaria se quisesse, escolher a instituição carente para ele ir no natal. Ele gostou da idéia
Dias depois, eis que encontro o Carlos dizendo que já sabia onde ele iria fazer as doações, conforme tinha sugerido. Estava bem animadinho.
Bem, esta reflexão é continuidade do texto comprar amiga(o), concluo que se estamos sós é por opção, fazer e conservar amizades é um ato de doação, mas quem quer apenas receber da vida, tem agora a chance de “amigo de aluguel”, no entanto faço minha torcida para que amigo(a) de aluguel seja um modismo que não tenha sucesso. Assim como os animais, amigos não se compram.

Nenhum comentário: